terça-feira, 15 de setembro de 2009

Desistir ou insistir?


Era uma cliente exemplar. Sempre que o médico propunha um novo medicamento para sua doença, ela estava disposta a experimentá-lo. Ele já havia perdido a conta de quantos foram, em tantos anos de tratamento. Há seis meses ela sumira do consultório. Telefonava, pedindo nova receita do medicamento que tomava, e enviava alguém para buscá-la. Quando, enfim, foi pessoalmente apanhar a receita, o médico achou-a mudada. Foi impossível não perguntar o que estava acontecendo. Ela foi sincera e direta ao responder: - Em todos esses anos, tive muitas dúvidas, sobre a possibilidade de um dia ficar curada. No entanto, aguardava com ansiedade, os dias de consulta. Havia sempre uma novidade ou um novo medicamento. Na última vez em que aqui estive, você deu-me a opção de continuar a tomar o mesmo medicamento ou ficar sem nenhum. "Não há mais nada a ser feito", você disse. Escolhi continuar o medicamento, mesmo sabendo que pouca diferença fará no meu tratamento. Mas, vir aqui, agora, exige um grande esforço. Você desistiu de me curar e, mesmo sozinha, preciso continuar tentando...

Era um marido exemplar. Sempre disposto a atender os desejos da jovem esposa. Ela parecia não perceber que ele trabalhava demais e precisava descansar. Quando aposentou-se, ele pensou que descansaria mas, a esposa, repassou-lhe alguns de seus serviços domésticos. Animado, ele decidiu tornar-se um gourmet. Os filhos adoraram a mudança na alimentação. A esposa mostrou-se indiferente. Só pensava nos cursos que estava fazendo e nos novos amigos. Um dia, saiu de casa, indo viver com um colega, por quem dizia-se apaixonada. A família ficou indignada e encheu o marido de conselhos. Ele ouviu calado. Os filhos não entendiam seu silêncio e, um deles, conversando com um amigo, falou sobre o assunto. O amigo respondeu-lhe: - Seu pai e meu avô são quase da mesma idade. Algumas pessoas, quando envelhecem, querem ter tranquilidade... - Você quer dizer que meu pai desistiu de viver? - indagou o filho preocupado. - Não, eu quis dizer que seu pai pode ter escolhido viver com tranquilidade. Ele sabe que tem pouco tempo de vida. Quando ele morrer, os bens serão divididos entre vocês. Desistência, na verdade, seria entrar numa briga com sua mãe e fazer essa divisão agora.

Era uma vez uma pessoa real, com problemas reais que, alguém, em algum momento, considerou um exemplo. Quando indagada sobre seu valor como exemplo, mostrou-se perplexa, e respondeu: - Sempre que a vida quis me impor um caminho que eu não havia escolhido, pensei em me deixar levar. No entanto, acabava encontrando, dentro de mim a força necessária para insistir, mesmo que minha escolha fosse o caminho mais difícil. Não tenho conselhos a dar, só posso sugerir que, sempre que a vida lhe indicar um caminho, use seu direito de escolha... e escolha.

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