sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O macaco que queria ser escritor






Na Selva vivia
uma vez um Macaco que quis ser escritor satírico.
Estudou muito, mas logo se deu conta de que para ser escritor
satírico lhe faltava conhecer as pessoas e se aplicou em visitar todo mundo e ir
a todos os coquetéis e observá-las com o rabo do olho enquanto estavam
distraídas com o copo na mão.
Como era verdadeiramente muito gracioso e as suas piruetas
ágeis divertiam os outros animais, era bem recebido em toda parte e aperfeiçoou
a arte de ser ainda mais bem recebido.
Não havia quem não se encantasse com sua conversa, e quando
chegava era recebido com alegria tanto pelas Macacas como pelos esposos das
Macacas e pelos outros habitantes da Selva, diante dos quais, por mais
contrários que fossem a ele em política internacional, nacional ou municipal, se
mostrava invariavelmente compreensivo; sempre, claro, com o intuito de
investigar a fundo a natureza humana e poder retratá-la em suas
sátiras.
E assim chegou o momento em que entre os animais ele era o
mais profundo conhecedor da natureza humana, da qual não lhe escapava
nada.
Então, um dia disse vou escrever contra os ladrões, e se
fixou na Gralha, e começou a escrever com entusiasmo e gozava e ria e se
encarapitava de prazer nas árvores pelas coisas que lhe ocorriam a respeito da
Gralha; porém de repente refletiu que entre os animais de sociedade que o
recebiam havia muitas Gralhas e especialmente uma, e que iam se ver retratadas
na sua sátira, por mais delicada que a escrevesse, e desistiu de
fazê-lo.
Depois quis escrever sobre os oportunistas, e pôs o olho na
Serpente, a qual por diferentes meios — auxiliares na verdade de sua arte
adulatória — conseguia sempre conservar, ou substituir, por melhores, os cargos
que ocupava; mas várias Serpentes amigas suas, e especialmente uma, se sentiriam
aludidas, e desistiu de fazê-lo.
Depois resolveu satirizar os trabalhadores compulsivos e se
deteve na Abelha, que trabalhava estupidamente sem saber para que nem para quem;
porém com medo de que suas amigas dessa espécie, e especialmente uma, se
ofendessem, terminou comparando-a favoravelmente com a Cigarra, que egoísta não
fazia mais do que cantar bancando a poeta, e desistiu de fazê-lo.
Finalmente elaborou uma lista completa das debilidades e
defeitos humanos e não encontrou contra quem dirigir suas baterias, pois tudo
estava nos amigos que sentavam à sua mesa e nele próprio.
Nesse momento renunciou a ser escritor satírico e começou a
se inclinar pela Mística e pelo Amor e coisas assim; porém a partir daí, e já se
sabe como são as pessoas, todos disseram que ele tinha ficado maluco e já não o
recebiam tão bem nem com tanto prazer.






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